Nossos inimigos não nos dão trégua! Não lhes daremos também: A Greve deve continuar!
- By: editoral
- On:
- 0 comentário
A greve deve continuar!
“E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio”
(Caetano Veloso, “Um Índio”)
Foi preciso que alguém gritasse o óbvio para que se revelasse aos povos o que estava oculto: o rei está nu, berrou a criança no conto de Andersen! Enquanto isso, num mundo bem bem distante dos contos de fadas, quem berra poderosamente aos quatro ventos, desnudando o caráter reacionário do Governo Lula-Alckmin, é a nossa grande greve da Educação Federal, deixando mais transparente do que as “roupas” do rei que o único compromisso desse governo é com as políticas de ajuste fiscal e que, verborragias e demagogias a parte, está a soldo do capital especulativo.
O processo de nossa greve não tem sido surpreendente, nem exótico, aliás é até bem clichê: mentiras, provocações, práticas antissindicais, dejá vu de assinatura com entidade fantasma, convocação de reitores para “acabar com a greve” e muita intransigência por parte de um governo que foi eleito com entusiasmada campanha da diretoria de nosso sindicato. Uma diretoria governista que, junto a uma “oposição” igualmente governista, sempre foi contra a nossa greve docente. Em 2022, “para não atrapalhar a eleição de Lula”, em 2023, “porque Lula acabou de assumir e a LDO é de Bolsonaro”, em 2024, “pra não fortalecer a direita”… Em resumo, nunca é hora de lutar!
Ora com um governo intransigente e uma direção governista, não tem greve que se sustente. Embora uma verdadeira rebelião das bases tenha colocado a greve de pé, sem uma alternativa combativa de direção para nossa categoria, a nossa derrota será a crônica de uma morte anunciada. E é inegável que não só nossa categoria, mas sim o conjunto da classe trabalhadora, sairá derrotado dessa greve se a encerrarmos agora, praticamente sem nada! Vencerão o arcabouço fiscal, a Faria Lima, os tubarões da educação privada, o NEM, o desvio do orçamento público para os banqueiros, para as emendas do Centrão. Perderá a Educação, a Ciência, a Saúde… Vencerá a intransigência do governo, que não cedeu em nada, mesmo tendo a frente uma direção de joelhos, implorando por qualquer migalha que pudesse apresentar como vitória. Com essa postura arrogante e intransigente, o governo nos usa para dar um recado claro a qualquer setor que ouse questionar sua política neoliberal: não tem negociação! Esse recado duro, esse “castigo exemplar” aos trabalhadores da educação é fundamental. Com nossa derrota, se abrirá caminho para, na sequência, acabar com o piso constitucional da saúde e da educação, avançar uma já anunciada nova contrarreforma da previdência, retomar a reforma administrativa depois das eleições municipais.
É preciso que nossa categoria acorde para o que está em jogo: aqueles que ainda não entenderam porque o aparato repressivo do Estado (que apoiou Bolsonaro em peso nas eleições) teve reajustes muito acima da inflação enquanto nós amargamos perdas e precarização, a resposta é uma só: o aparato repressivo precisa ser bem remunerado para que a repressão funcione! E funcione contra nós, contra nossa classe! Um governo burguês de um país desindustrializado num momento de crise mundial do capitalismo não precisa de professores, precisa de bate-paus! Por isso o governo virou as costas para categorias que o apoiaram tanto nas eleições. Voto se consegue de várias formas, se compra, se negocia! Por isso, quando precisa dar um recado de “compromisso com a austeridade”, o governo não hesita em romper com uma base social que sempre o apoiou. Como fez com o servidores do IBAMA e do ICMBIO. Como fez com os indígenas de Autazes. Como faz conosco. É inerente ao seu caráter de classe.
A crise de direção do movimento na greve da Educação Federal
Ser derrotado é, obviamente péssimo, mas faz parte da luta. Não é esse o problema que queremos discutir aqui. Mais grave é ser derrotado e querer convencer os outros de que foi vitorioso. Mentir pra sua base. Vender ilusões. E é isso que as direções de Andes, Sinasefe e Fasubra estão fazendo. Pior ainda é ser derrotado porque as direções ficaram o tempo todo com o freio de mão puxado, defendendo um governo que nos ataca. Isso não é derrota: é traição.
Uma greve desse porte, a maior em décadas, e as direções agindo como capachos do governo! Inventaram até que se Lula assumisse a negociação o resultado seria diferente, que Lula não sabia o que estava sendo feito… Como “ato de luta” propuseram marcar Lula e Janja nas redes sociais! Rebaixaram nossa pauta sem consulta às assembleias. Insistiram o tempo todo em fazer pressão sobre os parlamentares, como se daí fosse sair alguma coisa. Ao invés de chamar, com a autoridade da nossa gigantesca greve, uma grande unidade em defesa da educação pública, somando nossa luta com a luta contra a privatização das escolas no Paraná, contra a militarização das escolas em São Paula, com a luta contra o NEM, preferiram continuar com os atos formais, “bandeiraços” em aeroportos e todo o tipo de ação inócua, inodora e insípida. Até uma simples ocupação de reitorias no dia da última negociação com o governo foi rejeitada pelo CNG… por ser muito radical!
É preciso que tiremos a fundo as lições da greve até aqui para podermos mudar de rumo e avançar. Ou se constrói uma nova direção para o movimento docente (e não estamos falando de chapas para disputa do aparato sindical) e se retoma o caminho do classismo, ou não será só nessa greve que seremos derrotados! A continuar assim, em breve não vai sobrar universidade pública para defender.
Nós, militantes e simpatizantes da Aliança Revolucionária dos Trabalhadores, iremos defender a continuidade da greve e a necessidade de fazer tudo o que deveria ter sido feito e não foi, mas ainda pode ser. E defenderemos que, mesmo que sejamos derrotados e a greve se encerre, é necessário seguir na luta, construindo pela base, com a vanguarda que surgiu nessa greve, uma alternativa classista para nossa categoria. Porque os ataques estão só começando. Que nossa espinha não se dobre, nossa cabeça não se abaixe e que nossos punhos sigam sempre erguidos!
Sigamos!
Aliança Revolucionária dos Trabalhadores