CSP-CONLUTAS realiza V Congresso em clima de crise

CSP-CONLUTAS realiza V Congresso em clima de crise
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Entre os dias 07 e 10 de setembro, a CSP CONLUTAS realizou seu V Congresso, sob sua maior crise política em seus quase 20 anos de existência.

Em que pese o enorme esforço de um ativismo aguerrido que se deslocou das mais diversas regiões do país para se fazer presente, a verdade é que desde a abertura bastante desorganizada até o seu final em um clima de ufanismo semirreligioso, o V Congresso da CSP CONLUTAS escancarou o processo de enfraquecimento da Central.

Enfraquecimento esse que não pôde e nem poderia ser escondido pelas palavras de ordem blasonadoras da claque do eterno bloco majoritário. Bastava um ligeiro olhar sobre o salão do Clube Guapira, na zona norte de São Paulo, para perceber o quanto a CSP-CONLUTAS diminuiu do IV para o V Congresso. Uma realidade perceptível a olho nu, mas que pode ser melhor compreendida em números: enquanto o IV Congresso da Central, em 2019, realizado na cidade de Vinhedo-SP, teve 1591 delegados, o V Congresso, em 2023, realizado na cidade de São Paulo, teve 949 delegados, ou seja, 40% a menos de delegados eleitos na base.

Em nosso juízo, esses números não podem ser explicados usando o sectarismo infantil como faz direção majoritária da Central, ao dizer que o fator determinante do esvaziamento político da CSP CONLUTAS são as saídas recorrentes de setores traidores, tais como a direção do MTST, do SINASEFE e do ANDES. Certamente que concordamos que essas direções capitularam e aderiram de forma desavergonhada ao campo de apoio do Governo Lula-Alckmin, no entanto esse fato em si não explica a crise que se abate sobre a Central. Além do que, a boa tradição leninista ensina que não se devem construir sindicatos nem centrais “vermelhas”, apenas para os revolucionários. Não é porque discordamos das posições das direções dessas organizações que defendemos a ruptura com elas.

No entanto, o sectarismo autoproclamatório do campo majoritário da Central no Congresso foi tanto que só faltaram comemorar essas rupturas como vitórias, como um mérito da CSP-CONLUTAS, e não como derrotas importantes na luta pela unidade organizativa da classe trabalhadora, que enfraqueceram sobremaneira a Central.

Reconhecemos e reivindicamos os acertos da CSP-CONLUTAS, como a oposição classista aos governos Lula e Dilma e a suas contrarreformas, bem como a construção da Greve Geral e do Ocupa Brasília em 2017, entre outros. Todavia, esses acertos não foram, nem de longe, suficientes para contrabalançar os graves erros de sua direção, tanto políticos como organizativos. E são esses erros em momentos decisivos da luta de classes que, em nossa avaliação, explicam a decomposição política e a perda de influência da CSP-CONLUTAS no movimento.

Para começar: ao mesmo tempo que em 2016 a direção da CSP-CONLUTAS, num desvio ultraesquerdista, ignorou que a queda de Dilma se daria pelas mãos da extrema-direita e não combateu o avanço desse setor entre os trabalhadores, nos anos seguintes, contraditoriamente, essa mesma direção não hesitou em adotar a política de coexistência pacífica com a burocracia lulopetista, distribuída na CUT, na CTB e até na Força Sindical. Não faltam exemplos, alguns inclusive denunciados no próprio Congresso, mas sobre isso iremos abordar em artigo dedicado exclusivamente a esse fim. Não é por outra razão, que a direção hegemônica da CSP-CONLUTAS não teve dificuldade em passar da coexistência pacífica com o lulopetismo no campo sindical para o apoio ao lulopetismo no campo eleitoral, apoiando a chapa burguesa de Lula-Alckmin, nas eleições de 2022, ajudando assim a criar ilusões na classe trabalhadora.
Sem nenhuma autocrítica em relação a todos esses problemas, somado ao fato da desorganização, da falta de democracia nos grupos de trabalho, da manifestação de casos de racismo e machismo e na ausência de um plano claro de lutas, o V Congresso da CSP CONLUTAS foi a mais cristalina expressão da crise da Central.

Alguns temas precisam ser citados aqui, pela sua gravidade.
1) A direção da CSP-CONLUTAS organizou uma mesa sobre o tema da guerra na Ucrânia de forma totalmente unilateral, ignorando as diversas vozes na base da Central que reivindicavam a necessidade de também lutar contra a OTAN em vez de fazer o vergonhoso pedido de “apoio militar ao imperialismo”.

2) A ART, bem como outros setores, apresentou uma proposta de não-renovação dos cargos na SEN por mais de dois mandatos consecutivos. Uma proposta que faz parte dos estatutos de diversos sindicatos filiados à CSP-CONLUTAS e que consta, inclusive, de um manual publicado por um dos principais dirigentes do PSTU, partido que dirige o bloco majoritário da Central. Apesar disso, uma dirigente do bloco majoritário teve a coragem de defender contra e dizer que o manual em questão estava ultrapassado e serviu apenas para combater a velha burocracia cutista.

3) Imediatamente após ser rejeitada uma resolução apresentada pela ART contra o apoio da CSP-CONLUTAS às candidaturas de policiais, contra o apoio a motins ultrarreacionários da PM, em defesa da destruição do aparato repressivo do Estado burguês e pela organização da autodefesa da classe trabalhadora, houve um ato no Congresso contra a violência policial. Uma das mães de Paraisópolis, uma mulher negra que teve seu filho covardemente assassinado pela PM, fez um depoimento extremamente forte que tocou a todos, o plenário, incluindo a militância do bloco majoritário, passou a gritar em uníssono palavras de ordem pelo fim da polícia militar, ignorando completamente (alguns hipocritamente) e por obediência cega aos seus dirigentes o conteúdo do que havia acabado de rejeitar.
Diante de tudo isso, que não é pouco, não surpreendeu a ninguém a expressão desanimadora de uma militância que outrora era orgulhosa de si e de seu projeto político.

No V Congresso da CSP-CONLUTAS a decadência política da organização sindical estava expressa, mais do que nos números, nos olhos sem brilho dos ativistas. Enquanto nos Congressos anteriores os rostos dos presentes exalavam entusiasmo, alegria por estar ali, por encontrar camaradas, por planejar a luta, no Clube Guapira não se viu nada disso. Uma militância na maior parte do tempo apática, entediada, enfadada. Mesmo quando era chamada a fazer a claque ufanista da maioria, demonstrava fazer por obrigação, por centralismo burocrático. Na saída do Congresso, as expressões refletiam apenas cansaço e um certo constrangimento mal disfarçado.

Não poderia ser diferente. Todo o esforço financeiro e físico de uma pequena vanguarda de ativistas dedicados foi desperdiçado por uma direção arrogante, centrista e cada vez mais burocrática… Por isso, além de esvaziado, o Congresso foi fraco e despolitizado. O evento terminou sem responder à questão mais necessária neste momento: como construir uma Frente de Oposição Revolucionária ao governo Lula-Alckmin? Fica a questão: por que a CSP-CONLUTAS, Central que nasceu como contraponto à capitulação da CUT ao Governo do PT e a sua irreversível burocratização, não encabeça uma plataforma de luta contra o Governo Lula-Alckmin, contra o Estado e contra o conjunto da burguesia, baseada nos métodos históricos de luta e de resistência da classe trabalhadora?

Foi esse o conteúdo claro da proposta defendida pela chapa composta pela ART e pelo POR. Uma proposta com esse conteúdo não deveria ser polêmica, tampouco rotulada de ultraesquerdista por uma Central que se reivindica classista (e até revolucionária). A aprovação de uma frente de luta e de oposição revolucionária ao nefasto Governo de Lula-seria um sinal de correção de curso da Central e apontaria tarefas claras para a militância de sua base. No entanto, a direção majoritária se opôs a essa formulação, preferindo uma consigna vazia de “oposição de esquerda”. Não se tratam de meras palavras. A ART e o POR fizeram juntos a proposta de uma oposição revolucionária, dando a ela um conteúdo político claro, explicitando as tarefas necessárias, e a direção da CSP-Conlutas orientou a votar contra essa proposta. Fato é que, se a CSP-CONLUTAS avançou alguma coisa depois do apoio a Lula e Alckmin nas eleições e dos constrangedores rapapés de seus dirigentes em reuniões com Luiz Marinho e com o próprio Lula, avançou pouco.

Além disso, é importante ressaltar que nenhum plano de ação foi discutido em plenário. Na desorganização caótica que marcou todo o congresso transformado em mero evento, esse tema foi pautado junto com o de balanço da Central e apenas a ART usou esse tempo para apresentar propostas para a ação. Todas as outras teses apresentadas focaram-se ao balanço e foi aprovada a tese majoritária sem que uma única linha do seu plano de ação tenha sido debatida em plenário. Em compensação, nossa tese que defendia propostas como o apoio à campanha BDS, uma frente de lutas contra a mineração, uma campanha em todas as entidades pela legalização do aborto, a realização do IV ENE, etc, foi rejeitada sem que nenhuma dessas propostas fosse discutida ou incorporada. Foram simplesmente descartadas e substituídas por um plano de lutas que não foi discutido nem nos grupos e nem em plenário. Um descaso completo com os métodos da democracia operária e com todos aqueles lutadores e lutadoras que fizeram um gigantesco esforço para participar do congresso.

Tudo isso sintetiza o que foi o V Congresso da CSP-CONLUTAS: um Congresso com debates rasos, balanços irreais, que terminou sem plano de ação discutido, que não armou nem a militância para as lutas e nem a própria CSP-CONLUTAS para tentar se reerguer do seu evidente esvaziamento. Hoje ninguém pode negar que a CSP-CONLUTAS se tornou o que nenhuma Central poderia ser: mais uma colateral de um partido político, completamente hegemonizada por esse partido e onde os que discordam são, de maneira bem pouco sutil, desestimulados a continuar.

Nós da ART, uma corrente ainda embrionária, absolutamente ciente do seu pequeno tamanho, sem pretensões autoproclamatórias, apesar do nosso pouquíssimo tempo de existência, nos jogamos com tudo na nossa participação nesse Congresso. Levamos a maior delegação possível, num grande esforço financeiro e militante. Apresentamos nosso programa, nossas propostas para a classe trabalhadora, nosso plano de lutas, nosso balanço. Fizemos um debate sério, programático e, mesmo sendo duros em nossas colocações, fomos absolutamente respeitosos. Junto aos camaradas do POR lançamos uma chapa para termos mais tempo para apresentar nossas propostas. Aproveitamos da melhor maneira possível cada segundo de tempo que tivemos para defender nosso programa revolucionário e os métodos históricos da classe trabalhadora. Também realizamos uma atividade de construção da Frente de Lutas por uma Oposição Revolucionária ao Governo Lula-Alckmin, com outras organizações que a compõem.

Por fim, na condição de testemunhas oculares do que se passou nesse Congresso é que afirmamos que, sem um processo verdadeiro de desburocratização, sem a construção real de métodos da democracia operária nos debates, sem a atuação nas bases das centrais pelegas em oposição a elas, sem a busca da construção da unidade de toda a classe pela base, sem romper com a autoproclamação delirante e o sectarismo infantil, sem um plano de luta objetivo, sem a radicalização e a consistência necessárias que exige o atual patamar da luta de classes, a CSP-CONLUTAS, em vez de cumprir sua proposta inicial de ser um caminho para reorganização da classe trabalhadora, caminhará a passos rápidos para ser uma entidade puramente formal, fantasmagórica, um arcabouço vazio, um lúgubre pântano assombrado pelos fantasmas do que poderia ter sido e não foi nem será jamais.

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